quarta-feira, dezembro 29

Água de coco

Era um dia como outro qualquer das férias. Daqueles que a gente consegue acordar sem expectativa alguma. Eu comprava canetas vermelhas para corrigir as provas do próximo ano. Coração vazio, a última paixão tinha sido tão avassaladora quanto iverossímil. O telefone celular toca: "- Você já almoçou ? Não tenho comida aqui em casa vamos ao supermercado ?" Incrível como este amigo capta minha sintonia. "- Claro, este era mesmo meu plano para hoje !" Antes do supermercado entretanto, ele resolveu passar em uma casa de produtos naturais. Coisa típica dele, adorava alterar a programação, algo que eu detestava, diga-se de passagem. Quase fiquei brava, mas por um instante pensei que poderia ser interessante conhecer uma loja 'natureba' no centro de SP. Era tão diferente aquela parte da cidade, parecia que estávamos em outro país, até porque já havíamos estado juntos noutro país há exatamente um ano atrás. Mais inusitado foi passar por vários caminhões de vendedores de coco verde. Eu disse: "- Vamos comprar coco ?" Ele imediatamente parou o carro e foi negociar o preço. R$0,60 ! "- Vamos vender coco Dé ? Eu vou vender coco na praia !" Colocamos todos os 20 cocos no porta malas e ele disse, sem preconceito, mas com seu humor típico "- É.... carro de baiano !" Almoçamos e compramos o essencial para não morrermos de fome nos próximos dias, cada qual em seu próprio nicho. O supermercado ficou para depois, perdeu sua importância. Estávamos repletos da nossa companhia, não nos faltava nada, ou pelo menos era esta a sensação. Cheguei em casa com meia duzia de cocos, rindo sem saber como iria abrí-los. Dia seguinte, em busca de outras coisas tropecei em um vendedor ambulante "- Como funciona esta peça moço ? - Muito simples dona, é só colocar o coco numa mesa, ou no chão, e furar assim Ó..."

sexta-feira, dezembro 24

Amor Uranizado

A Mônica, diferente do que imaginava Eduardo, era de Aquário e sempre desejou conhecer um astronauta, fosse ele o que fosse, para andar de foguete. Admirava plutonicamente o recém conhecido galáctico. Ele simplesmente mandava notícias do mundo de lá. Ela respondia, oras perguntava, se surpreendia, provocava. Completou-se intelectualmente como nunca antes. Sabia desde pequena que seu par não seria um terráqueo qualquer. Ela tinha, dentre todos os defeitos, uma expectativa de amar de verdade, muito além do explicável. Curiosa, desejava desvendar os mistérios das efemérides. Mas tinha muito medo de ser feliz e não mais voltar à Terra. Fez parte de suas sandices estudar astronomia e astrologia. Também biologia. Não contente, haja genes... Conversou com Jung, abriu o Tarot. Desejava, mas não tinha certeza. Um dia visitou Urano, conheceu Eduardo (e seu foguete!). Ficaram, ou melhor, já eram, às avessas. Como ela o amava, mas só o sabia fazer cientificamente, realizou o experimento. Misturou panos, branco com vermelho, e para sua surpresa.... Cor de rosa !