sábado, dezembro 24

Prenatal


Cheguei atrasada...ou melhor, elas adiantaram o encontro (rsrs).

Já haviam começado pela C, amiga de muitos anos (uma conta rápida - 16 anos!). C tem como principal característica um jeito muito jovial e um olhar com capacidade surpreendentemente atrativa ao sexo oposto. Não raro em nossos encontros surgiram homens à nossa mesa sem que fôssemos capazes de perceber como! Ela estava especialmente ansiosa com o paquera novo. Contou peripécias pessoais das quais ele jamais desconfiaria, aliás, nenhum homem seria capaz de imaginar que temos capacidade de fazer certas coisas quando, digamos assim... bastante interessadas neles. Mas como C não faz o perfil da namoradeira ela estava especialmente mais engraçada, feliz, com brilho no olhar, e o mais inusitado, ou melhor, a novidade dela do ano – estava tomando cerveja SEM álcool!

Completamente maluquete, M, que está comprometida já há alguns anos (inacreditável – alguns relacionamentos dão certo!) se enfureceu ao lembrar dos armários que já podiam estar em sua casa nova viabilizando o casamento prometido desde o ano passado (estava esperando algo tradicional, mas ela parece não querer jogar o bouquet por achar meio demodê). No meio do seu curso de massagem já prometeu pegar nos nossos pés e dar umas amassadas nas nossas celulites! Uhuhu!

S, inicialmente amiga de M, mudou-se há algum tempo para outra cidade por conta de trabalho – um bom trabalho, diga-se de passagem. Ela assim como C e eu, contou uma história de um paquera, mas muito despretensiosamente (dizem, aliás, que é assim que dá certo...). E como temos trabalhos semelhantes, também conversamos sobre alunos, congressos e colegas.

Eu, como não podia deixar de ser, contei como continuou aquela paquera do ano passado (Ele apresentou a nova namorada – uma pessoa que eu já conhecia e que acho bacana...), e também lembramos da minha paixonite do ano retrasado que não deu certo, mas que é engraçada porque o cara literalmente despencou do beliche ao meu lado em estilo “it’s raining man”.

Além disso, este ano engordou 3 de nós, não importa a "quilometragem", mas mesmo assim consideramos a possibilidade de levar as Free Willies prá encalhar na praia nos próximos dias...

The Bridget’s Jones paulistanas (to be continued :-)

quarta-feira, dezembro 7

Papai

(Under construction)

"Os homens têm dificuldades em exercer o papel de pai, ou são ausentes ou de personalidade muito forte quando presentes" (PH Saldanha).

Ele era um tipo presente mas ausente. Magro e baixinho, colecionava tão poucos cabelos quanto amigos. Mal humorado, bravo, esquentado e de certo modo invocado (como não deixam de ser os baixinhos). Todo honesto, certinho e perfeccionista. Trabalhava o dia todo, certo período também à noite. Sempre chegava adiantado em seus compromissos, ainda que de lazer. Respeitava e se orgulhava de seus chefes, fazia dos tornos a sua perfeição na forma de protótipos de relógios em acrílico. Muito modesto deixava de comprar roupas prá ele para comprar o que precisávamos. Era capaz de devolver os trocos que lhe conferiam vantagens. Apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube - era tão proibido passar inadvertidamente na frente da tv nas tardes de domingo quanto impossível imaginar a possibilidade de manter uma conversa em dias de derrota do time...

Quando pequena ele me acordava para me levar à escola, e apesar de toda a rigidez e responsabilidade que ele inspirava, era adorável ouvir:

"- Andréa, está na hora, mas hoje está chovendo..."

Eu imediatamente abria um sorriso, pensava se tinha prova, e quase sempre dormia de novo, com pena do papai que não podia faltar como eu.

quinta-feira, novembro 17

The X love

I'm not in love, so don't forget it.
It's just a silly phase I'm going through.
And just because I call you up,
Don't get me wrong, don't think you've got it made.
I'm not in love, no no,

it's because...

The closer I get to you
The more you make me see
By giving me all you've got
Your love has captured me

I like to see you, but then again,
That doesn't mean you mean that much to me.
So if I call you, don't make a fuss -
Don't tell your friends about the two of us.
I'm not in love, no no,

it's because...

Over and over again
I try to tell myself that we
Could never be more than friends
And all the while inside
I knew it was real
The way you make me feel

I keep your picture upon the wall.
It hides a nasty stain that's lying there.
So don't you ask me to give it back.
I know you know it doesn't mean that much to me.
I'm not in love, no no,

it's because...

Lying here next to you
Time just seems to fly
Needing you more and more
Let's give love a try

you'll wait a long time for me.
you'll wait a long time.

Sweeter than sweeter love grows
And heaven's there for those
Who fool the tricks of time
With hearts in love will find
True love
In a special way

I'm not in love, I'm not in love...

Come a little closer so we can see into the eyes of love
Just a little a closer let me speak to you
I wanna tell you something
Here I am - I just want you to come closer
Come a little closer let me whisper in your ear
‘Cause I wanna tell you something
Move a little a little closer we can say for real
The way we feel about each other’s lovin’

(I'm Not in Love/The Closer I Get To You)

domingo, novembro 13

Wild Anti Development Agency

Quando os avanços tecnológicos desestruturam a organização
vigente,
milhares de dólares são investidos a desejo de algumas mentes,
na tentativa de manter o controle e o poder sempre à frente,
daquilo que não percebem ser completamente inócuo e
contra-corrente.

segunda-feira, outubro 31

Noivo ou zelador?

Das atribuições esperadas de um noivo ideal,
espantar répteis e anfíbios será sensacional,
Antes que uma lagartixa promova um carnaval!

Trocar lâmpadas, chuveiros, relógios e varais,
são mais simples que preparar foie gras e tais,
apesar da boa vontade, temperos e alguns sais.

Ciência, cinema, muito papo, um bom bocado...
tudo meio enrolado prá dar um certo descompasso,
Só prá eu querer seguir seu passo e ver se me laço.

Secador de cabelos - um abraço!
nada melhor que um amasso!
Lá na casa sua (você tem)
onde marte olha vênus e
sua.

domingo, outubro 16

Sentimento Pira(do)

Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Eu que não sei pedir nada,
só queria saber em qual rua
Minha vida iria encostar na tua

Pra mim que tudo era saudade
Agora seja lá o que for,

que perder seja o melhor destino...

Pois minha procura por si só
Já era o que eu queria achar.

Modificado de: Ana Carolina
Encostar na tua/Quem de nós dois

quarta-feira, setembro 28

Ai Se Sêsse

Zé da Luz*

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois lá subisse
Mas porém acontecesse de São Pedro
Não abrisse a porta do céu
E fosse te dizer qualquer tolice
E se eu arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me aresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Taveis que nois dois ficasse
Taveis que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

* Poeta do sertão de Pernambuco, início do Século XX

terça-feira, setembro 6

Um Tudo

algo bem arranjado em um cubo
do tipo mágico que abriga, mudo,
segredos escondidos lá no fundo.

algo desalinhado em pêlo puro
do tipo enrolado em pano, escuro,
como quase tudo em todo o mundo.

algo enveredado sem nenhum apuro,
do tipo elaborado que desobriga, contudo,
mover mundos em busca de fundos.

sexta-feira, setembro 2

Romântica in sensatez

Romântica prá lá de cântica,
Encanta
Sensatez que um dia lhe fez,
Talvez
Encana sempre e não descansa,
Emana
Ares de completa e inoportuna
Insensatez
Ardida e incontida ao colchão,
Paixão.

sábado, agosto 27

Manifesto científico-poético

(Ramirez & Machado, 2005)
OU
(Machado & Ramirez, 2005)
a gosto da CAPES!

"A pressa de saber obstrui o campo da curiosidade e liquida a investigação em muito pouco tempo" W. Zusman

Frase boa, principalmente em época de produção científica com tempo delimitado por bolsas de produtividade e avaliações CAPES.

-Cismada com a bolsa?

Não exatamente, é que vejo todo mundo muito aflito, mais preocupado com o publicar do que com o pesquisar, e não foi assim que fui batizada na Ciência.

- Nem foi assim que a Ciência foi concebida, se podemos dizer assim.

Eu acho que sim.

- Mas está tudo meio deturpado,
a filosofia discute só a linguagem,
a ciencia virou linha de produção,
o conhecimento está ficando de lado,
ilhado,
em pequenos rebeldes,
que batalham contra estas coisas,
quase como numa guerrilha.

quinta-feira, agosto 18

Como Mutante...

No fundo sempre sozinho
Seguindo o meu caminho
Ai de mim que sou romântica...
Kiss baby, kiss me baby, kiss me
Pena que você não me kiss
Não me suicidei por um triz
Ai de mim que sou assim...
Romântica, assim...

(Rita Lee & Roberto De Carvalho)

domingo, agosto 7

Virtualização desorientada

Quer um "combeijo"?
Com ou sem efeito?
de qualquer jeito,
seja qual for o efeito,
ou quem o tenha feito
com muito jeito, me ajeito
enquanto faz o seu efeito
Não tem jeito... é feito,
com efeito de queijo e
vinho beijo.

quinta-feira, agosto 4

Orientação desvirtualizada

Não tem jeito
faz do seu jeito
que eu me ajeito
em qualquer feito
de qualquer jeito
com ou sem efeito
Quer um confeito?

sábado, julho 23

Quando o chão sai dos pés

Nem secador aquece a fé
De um dia aquecer os pés
Ao lado de alguém que se quer

Essência da carência
Provocada pela ausência
Da partida sem anuência.

Cadê a referência?

segunda-feira, julho 11

Secador de cabelos

Mulher cuja vaidade permite sair com cabelos úmidos pelas ruas, Possuidora de um secadorzinho pequenininho da década de 1990, Acabo de descobrir A grande finalidade para O secador de cabelos,


AQUECER OS PÉS!

Deve até prevenir frieiras e ventuais chulés...
confesso deu até um arrepiozinho...
Já penso em comprar um mais potente!

sábado, junho 18

With a little help from my friends

Lennon/McCartney

What would you think if I sang out of tune,
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key.

Oh, I get by with a little help from my friends
Mm, I get high with a little help from my friends
Mm, gonna try with a little help from my friends

What do I do when my love is away
(Does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day,
(Are you sad because you're on your own?)

No, I get by with a little help from my friends
Mm, I get high with a little help from my friends
Mm, gonna try with a little help from my friends

Do you need anybody
I need somebody to love
Could it be anybody
I want somebody to love.

Would you believe in a love at first sight
Yes, I'm certain that it happens all the time
What do you see when you turn out the light
I can't tell you but I know it's mine,

Oh, I get by with a little help from my friends
Mm, I get high with a little help from my friends
Mm, gonna try with a little help from my friends

Do you need anybody
I just need someone to love
Could it be anybody

I want somebody to love.
Oh, I get by with a little help from my friends
With a little help from my friends.

quinta-feira, junho 9

Geneticamente dopada!

Encantada
Dopa a mina,
Mio toca,
Dopamina

Gene,
tica a mente,
isoladamente,
insana gente.

Eritroxila,
até lácea!
Igdf-1, gdf-8
decodifica...

mios (Diós)
tá... rEpo!
Tina China!

GMA
(Gene Marketing Affair :-)

domingo, junho 5

Certas incertezas

Dentre todas as outras
incertezas,
Certas ou incertas,
Estou certa,
Ainda acerto!
Certo absurdo
não pode estar tão perto
muito menos incerto...
Certo?

"A incerteza é uma sensação desagradável, mas a certeza é um absurdo"
Voltaire

sábado, maio 21

A ética gen do mestre ad hoc

Knock, knock, knock
"- Entra !"

Foi em 1993 a primeira vez que entrei naquela sala e vi aquele rosto cético. Os olhos revelaram perplexidade ao perceber três das minhas características marcantes da época: ingenuidade absoluta, ignorância acadêmica e total romantismo pela Ciência.

Ele é a memória viva da Genética Humana no Brasil. Descobri isto alguns meses depois de conhecê-lo pessoalmente, ao ler uma matéria no jornal do CRB. Foi difícil revê-lo após aquela descoberta, não estava acostumada a lidar com pessoas importantes. Mas ele nunca ostentou seu vasto currículo e me tratava Rogerianamente, como ele gostava de dizer: "É preciso deixar a pessoa bem emocionalmente à vontade para ela desenvolver, ao máximo, suas capacidades cognitivas!"

"- Mestre, por que o Sr. resolveu me orientar?"
"- Quer que eu diga que foi Amor à primeira vista ?"
Quase sempre eu respondia a este tipo de pergunta-afirmativa dele com um sorriso meio encabulado, meio satisfeito. Eu o admiro muito, até pela capacidade de dizer estas coisas tão espontaneamente em meio às nossas deliciosas conversas, preferencialmente matinais (quantas vezes acordei cedo em nome deste amor...).

Nossos encontros eram recheados de alegria e emoção. Filosofávamos sobre política, estatística, psicologia, economia, assuntos pessoais, história da ciência, religião, cinema, literatura, metafísica, e até sobre genética do câncer que foi tema da minha dissertação.

Tão extremamente inteligente quanto exigente, ele fazia questão de corrigir todas as minhas vírgulas mal empregadas, utilizando-se de justificativas das mais valiosas excepções gramaticais. Aposto apropriadamente posto ou deposto poderia ser outro título engraçado para esta história.

Foram mais de cinco anos de convívio semanal na fase do mestrado. Ele é respeitadíssimo academicamente pelas suas geniais contribuições científicas, principalmente as realizadas na década em que eu nasci. Dotado de um rigor científico único, pautado num compromisso ético singular, e de uma crítica severa, obteve uma coleção de admiradores correspondente à de adversários acadêmicos. De humores imprevisíveis (segundo os outros), sempre me tratou com o maior carinho e esteve sempre presente naquilo que combinamos.

Tem muitas máximas, dentre as quais, "Sem fé não se toma nem um picolé". A minha favorita é: "Eu sempre digo a verdade! Às vezes mais, às vezes menos, sempre de acordo com a capacidade de compreensão do interlocutor..."

Tive o privilégio de ter uma excelente orientação dada a profundidade da relação paternal-orientadora que foi estabelecida. Ele foi o "culpado" pelas viagens que fiz durante o mestrado, pelos prêmios do trabalho, pela herança da coleção das revistas da SBPC com direito ao exemplar número um. Também por me apaixonar pela história da ciência, estatística e pelas leituras exóticas e cronicamente inviáveis.

"- Alô Andréa ? Estou te ligando para, além de saber como vai você, perguntar se você já enviou aquela foto do nosso trabalho ao nosso amigo editor da revista, um professor armênio está interessado em usar nossa foto no artigo dele!"

"- Meste ! Estou com saudades ! Que bom que ligou, não esqueci da foto, vamos nos encontrar ?"
Fomos ao cinema. Um filme genial, digerimos a história logo após num jantar, que por sua vez foi recheado das mais diversas conversas sem fim. É porque não temos fim. Nós somos mais ou menos assim: toda a profundidade científica e amorosa, com o maior respeito e (à) liberdade.

sábado, maio 7

Amor de competição

Quem é gato quem é cão,
Ninguém sabe quando perde o chão
E se apropria da suposta razão.
Hearts full of passion, jealousy and hate[1]
Heads full of reason, dubiety and template.
Se empurram pr´um abismo
Se debatem, se combatem sem saber[2]
Já sabendo, talvez querendo
Que fosse(m) com(o) seu ser...
É feito que causa
Causa e efeito.

Refs.
1. As time goes by – Carly Simon
2. Onde Deus Possa Me Ouvir - Gal Costa/Vander Lee

terça-feira, maio 3

Tempos temperados

Quanto à ELE:
Alguns ganham,
outros perdem
Alguns acertam,
outros arrumam.
Alguns acham,
outros nem procuram.
Tempo
Algo tão...
bom...
algo dão
para a soli
dão.
Definição:
De fim em são
Delfins, são.
Tempos
Nossos tempos
Velhos.... tempos
Temos
Quanto tempo ?
Novos tempos
Não temos
temendo...
Com temperos
Destemperados
Sem tampa,
Destampados,
E escancarados
Feitos
em panela de barro
com colher de pau.

segunda-feira, abril 25

Dinâmica do vazio

É mais ou menos assim:
Uma noitada daquelas.
Você se anima para conhecer pessoas novas.
Vai a um local badalado, cheio de gente,
Dança até não poder mais. Espanta todos os males.
Bebe ou não, tanto faz.
Os caras sabem que na "Natureza cabe aos machos o papel da coorte",
E são cortezes...

Você fica mais linda do que imagina,
É muito mais interessante do que o verossímil,
Em geral ouve frases como:

" - Eu vou te beijar !"

Você, como uma mulher do século IXX. Pára, pensa, olha, calcula riscos em frações de segundos para imediatamente considerar que é melhor não pensar em nada. Tudo isto ocorre enquanto sorri amavelmente para a criatura, que a esta altura, está empolgadíssima esperando a brecha para agir.

Tanto faz se você resolve fazer o tipo "fácil" ou "difícil", lá pelas tantas, rola o tal beijo.

Ele, o beijo, pode ter inúmeras características, sendo que a mais interessante é ser simplesmente bom. Então, as pessoas, como adeptas do hedonismo, beijam bastante e aproveitam o momento.

" - Então tchau."
" - Tchau."
Outras vezes acontece de alguém interessante te notar nas situações menos óbvias, de trabalho por exemplo.
"- Vamos tomar um café?"
"- Puxa, infelizmente estou muito atrasada."
Dias depois a criatura te aborda ansiosamente com um sorriso alegre por ter te re-encontrado. Você raciocina em questões de segundos "Como assim?"
Ele puxa uma conversa que mais se assemelha a um inquérito.
Você, já percebendo que se trata de um gato escaldado, simplesmente responde para facilitar o lado dele, apesar de considerar a abordagem meio estranha, para não dizer, invasiva.
Ele termina o questionário invisível pedindo seu telefone para combinar um cinema e deixa a cena animado.
Você se questiona novamente "Como assim?" e imediatamente pensa, "Deixa de ser preconceituosa, as coisas não são como você gostaria que fossem sempre, o moço é bonito e quer namorar, considere a questão.
"- Alô Andréa ? Aqui é o ..... tudo bem ?"
"- Oi, tudo bem. Com você também ?"
"- Sim. O que você vai fazer hoje a noite ?"
"- Ué, não combinamos de ir ao cinema ?"
"- Que bom, pensei que você fosse mudar de idéia."
(Pela terceira vez você pensa, "Como assim ?" e responde com o mesmo tom de voz amigável)
"- 'Magina', eu combinei com você não foi ?"
Ele faz o estilo antigo, te pega em casa, paga cinema e jantar. Você se sente meio "comprada", a situação não poderá se repetir por muitas vezes, senão ele leva o acerto de contas a ambientes mais constrangedores... Ou não, se você resolver que não deve nada a alguém que contraditoriamente te pede para parar de contar histórias durante o jantar.
"- Você me acha com cara de psicólogo?"
"- Não!"
"- Então por que está me contando esta história?"
"- Porque ela explica porque fiquei com raiva do personagem do filme."
"- Tá, mas não precisa contar a tua história."
"- Ué, você não queria saber sobre mim?"
"- Sim, mas não tudo, só um pouquinho."
Como assim ?!?!

sábado, abril 9

Escolhas difíceis

Projetos

Paixão, mistério e sexo ou, Amizade, carinho e projeto ?

Paixão, carinho e amizade ou, Mistério, sexo e projeto ?

Paixão, projeto e sexo ou, Amizade, carinho e mistério ?

Projeto e sexo, paixão e amizade, mistério e carinho.

Projetos ProSex, ProAm, ProCar, Pro chão... !

- Colchão ?

Tem jeito não...

Deixe ao acaso...

Acaso e Des(a)tino

Caso atino e desatino mudo o destino. Caso ?

- Mais um caso ?

Estranhos encontros ao acaso. Vários táxons...

- Casos !

Acaso tiro o casaco e o sapato, caso ao acaso ?

- Casaco ?! Mas este não é o caso !

- Ex... passo !

Don't stop Belivin' AndréA !

Roll the dice one more time in your Journey!!!


Just a small town girl, livin'n in a lonely world
She took the midnight train goin' anywhere
Just a city boy, born and raised in South Detroit
He took the midnight train goin' anywhere

A singer in a smokey room, the smell of wine and cheap perfume
For a smile they can share the night, it goes on and on and ON and ON....

STRANGERS waiting, up and down the boulevard
Their shadows searching in the night
Streetlight people, living just to find emotion
Hiding, somewhere in the niiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiight......

Working hard to get my fill, everybody wants a thrill
Payin' anything to roll the dice, just one more time
Some will win, some will loose, some were born to sing the blues
Oh, the movie never ends, it goes on and ON and ON and ON....

sábado, março 26

Alice no país das maravilhas

Levei mais de 30 anos para te re-encontrar,
Isto sem falar nos outros quatro...

Uma menina tímida e calada que desenhava casinhas e foguetes. Escalava, dos pés à cabeça, a cama dos pais para dormir entre os dois. Ficou encantada quando ouviu, pela primeira vez, sua própria voz num gravador. Adorava os Jetsons e a Formiga atômica. Bernardo e Bianca foi seu primeiro filme no cinema. Sonhava em ganhar uma casinha de madeira, mas tinha de vir com bonequinhos vivos dentro.

Chorou muito quando os pais a deixaram em casa com as irmãs mais velhas, e quando foi separada da amiguinha na pré-escola. Não tinha panelinhas, tinha poucas bonecas, gostava de carrinhos, e amava livrinhos. Colocava a cadeirinha de ponta cabeça, dividia os carrinhos com o irmão e faziam questão de brincar de estacionamento no meio da sala, aos pés da mamãe. Finjia dormir a noite no sofá, só para esperar o papai carregá-la até a cama e dar beijinho de Boa Noite.

Nas férias lia muitas revistinhas em quadrinhos. O professor Pardal era o favorito. Adorava brincar com os primos, mas preferia muito mais a companhia do primo do que da prima. Sempre gostou de doces. Adorava os bolinhos de banana da mamãe e, de todos os bolos que ela fazia, o favorito era o de cenouras que, competia pelo primeiro lugar com o de chocolate. Água sempre foi uma grande paixão da infância, doce ou salgada. Fazia até barquinhos de papel para colocar nas correntezas da rua em dias de chuva.

Adorava ir ao supermercado, tinha sempre o direito de escolher uma boa guloseima. Tinha poucos amiguinhos. Não gostava de brinadeiras como Esconde-esconde, ou Pega-pega. Gostava de Amarelinha, pular elástico com as amigas, jogar peteca e buraco com a família. Adorava Caça-palavras e Picolé. Sorvetes também. Pac-man e Pitfall já mais grandinha.

Não se preocupava em pentear cabelo ou trocar de roupa para sair. Era capaz de usar a mesma roupa uns três dias seguidos. Tomava banho com sua mãe e irmão. Andava só de calcinha pela casa. Nunca teve chulé. Só algumas frieiras que o médico do clube insistia em achar para acabar com a alegria da piscina. Teve catapora, rubéola, e alguma outra destas. Não era de adoecer.

Aos sete anos teve sua primeira paixão, o Eduardinho, um menino muito bonitinho que nem sabia, mas era seu namorado. Na Páscoa, era fantástico correr atrás dos ovinhos que o coelho deixava nos gramados do clube, escondidos atrás das plantas. Chegou até a ver o coelho uma vez ! Sempre conviveu com gatos. Pobre do gato amarelo, tinha umas bolinhas tão bonitinhas perto do rabo, que determinado dia foram apertadas com tal força, que o gato miou muito alto e desapareceu.

Aos nove anos ganhou o concurso de leitura da escola, e como prêmio, mais livrinhos. Adorava as aulas de Língua Portuguesa e Ciências, odiava Matemática, nunca decorou a tabuada. Era gordinha, não se dava muito bem nas aulas de Educação Física. Mas ganhava sempre nota máxima de redação. Para quê estudar História se já passou ? A professora quase teve um ataque.... mas as aulas dela eram muito chatas.

Fazia natação, era recomendação médica para a escoliose, que diga-se de passagem, nunca doeu. Sempre sentou nas primeiras carteiras porque tinha perda auditiva. Aprendeu a fazer leitura labial. A descoberta do espelho também foi fenomenal. Passava horas conversando com aquela outra ELA que lá se escondia, no quarto dos pais.

Toda santinha, como dizia sua irmã mais velha, no fundo já era terrível, falava tudo que não gostava sem medir as palavras, ainda que estas fossem escritas....

"São Paulo, 13 de Setembro de 1982.

Meu querido diário, o dia para mim não saiu da rotina. Então vou contar sobre o domingo. De manhã fui ao clube e de tarde voltei chateada.
Acho que eu não falei nada. Então eu vou falar o que aconteceu no clube para você saber porque eu voltei chateada.
Assim que eu cheguei lá eu joguei bola com minha prima, até mais ou menos meio dia. Depois sentei no mato, perto do lago para almoçar. Só que eu não comi nada porque tinha peixe e eu não gosto. Minha mãe insistiu para eu comer e eu não quis. Só tomei guaraná.Depois, passeando, vi uma porção de pessoas na piscina. Já sabe porque eu fiquei chateada ? Se não sabe só vai saber no fim. Depois brinquei no parque, tomei sorvete e vim embora para casa. No caminho eu falei à minha mãe que domingo que vem eu vou entrar na piscina."

(trecho do diário da quinta série, na íntegra, sem as correções da professora)

Quanto à Alice.... ainda existe, loirinha e cor de rosa, por ironia do destino. Temos até foto juntas, com apenas um ano de idade. Presente da mamãe.

sábado, março 12

Falta de Ar

Gostaria...

De ver contigo, apesar de não saber a quem se destina o convite.
ambiguidade também é nossa palavra chave,
sutileza ainda é meu entrave,
esta amizade é muito Oscar Wilde...

Veleiros ancorados são sedutores,
castelos fazem parte dos amores,
Curariam as dores ? Dariam novos sabores ?

Não há mensagem oculta,
minha criatividade não é tão culta
embora oculta ainda seja minha face.

Sandices à parte,
óbvio empate,
nada de embate ou combate,
só levam ao desgaste.

Enquanto reviro a volta, ainda não uso rosa,
só espero sua escrita de volta, quem sabe uma volta,

Assim, métrica, você vive contigo, eu vivo comigo,
com sorte a gente convive e vive !
(AR - 23/08/2004)


Belas paisagens
Otimos contatos
Aventuras

Voe feliz
Imagine coisas boas
Aprecie ao máximo
Garanta seu sucesso
Entregue-se ao
Mundo... de coração
(AR - 25/09/2004)

quarta-feira, março 2

Cromossomos iguais

Os cromossomos dizem como somos
- Como somos, cromossomos ?
Somos cromos, cronos, rosnos
- QUEM somos, cromossomos ?
Cross-Nós-Somos
Cheios de nós... somos... cruzamos...
- O quê ?
Crossing over !
- E se quizerem saber quem somos ?
Somos over !
- Somamos ou só somos ?
Somos !
Cronos, sonos, sonhos...
- Cromossomos somados ?
Somamos 46 cromossomos,
Assim geramos outro soma
da espécie humana.
- Hã ?
Em cada célula, cada cromossomo revela como somos.
Na NOSSA célula, nos revelamos como somos !
Juntos criamos tétrades cromossômicas,
Duplicamos e separamos, geramos as filhas.
- ProMetaAna.... ELE há de Telefonar ?
Não se precipite... Cromossomemos !
Os bons momentos na placa equatorial...
- Pareamos ?
No momento certo.

sábado, fevereiro 19

Pegadas nas areias da vida

Dizem que na vida da gente algumas pessoas levam um pouquinho de nós enquanto outras deixam um pouquinho delas. São inúmeros os detalhes que aprendi com o namorado que mais me levou a sério até então... Ele é um virginiano típico no melhor sentido do significado do signo solar. Percebo que minha rotina ao acordar durante a semana começa pelo café da manhã para depois passar pelo banheiro, nunca antes sem um copo de água (graças ao médico velhinho da TV), rotina sugerida por ele anos atrás enquanto namorávamos... Sair sem banho para trabalhar nem pensar !

Nos conhecemos ao fazer uma viagem. Era um dos últimos dias do ano. O caminho fôra desviado especialemente para pegá-lo. Ele acabara de sair de uma fábrica que fôra visitar a trabalho. Usava terno e óculos escuro. Aparentemente possuía um "ar" muito sério para quem vinha badernando a viagem toda, de vestido hippie e chinelos (EU :-).

"- Xiiii ...... vamos ter que nos arrumar por lá mesmo porque estes dois aqui não vão rolar..."
"- É mesmo Andréa... lá deve ter uns caras mais interessantes !"
Foi minha conversa de pé de ouvido com uma amiga ao vê-lo pela primeira vez.

Sempre fecho a porta do apartamento com tranca antes de dormir, a segurança ao dormir é muito mais importante do que a segurança ao sair de casa, segundo ele, e portanto, segundo eu agora, é claro.

Passamos alguns dias juntos na tal viagem. Éramos seres muito diferentes. Ele profissionalmente bem sucedido, trabalhava em uma multinacional, eu uma mera professora da Rede Pública Estadual. Mas logo descobrimos algo que gostávamos de fazer em comum: caminhar quilômetros pela areia da praia, molhando os pés na água do mar. Fizemos uma caminhada longa e fomos discutindo o impacto ambiental da construção das hidrelétricas sobre o ecossistema. Eu tinha uma visão muito socialista utópica, ele mais "pé no chão". Eu mais fervorosa, ele mais apaziguador, na discussão.

Riu muito quando no supermercado eu perguntei para todos que estavam conosco na casa:
"- A base tem alguma coisa contra pão Pullman ?"

Enfim, tudo que poderia enquadrá-lo na condição de metido, ele conseguiu reunir durante a viagem. Só queria comer em restaurantes caros (os BONS segundo ele). Foi o único que não foi à praia porque precisava trabalhar. Ficava seriamente impávido diante da música alta que fazia a todos dançar e chacoalhar as suspensões do carro. Foi e voltou de avião (pago pela empresa, é claro...). Era o único todo arrumadinho na noite do Reveillón, usava tênis novo com meias brancas em plena praia. Meu oposto total ! tanto que me inspirou, de propósito, marcar ainda mais as diferenças e passar a virada de ano com minha blusinha vermelha semi-tranparente, sem sutiã, saia jeans velha e havaianas., completamente desencanada.

Ninguém entende bem o porquê, mas só coloco gasolina Shell aditivada no carro até hoje. O “arzinho” fica sempre aberto para evitar acúmulo de poeira e.... no inverno o quente só pode ficar ligado até antes de esquentar as orelhas, para não ficar resfirada.... Ele me ensinou muitas coisas boas...

E foi ao pular as sete ondinhas que uns moleques molharam eu e uma amiga. Entramos na água. Tinha sido a noite que eu mais me dedicara à bebida até então. Muitas caipirinhas ! Quando saímos da água e vi aquele ser todo arrumadinho, e sério, no meio da bagunça de fim de ano, não me contive de indignação. Pulei no colo dele toda molhada e gritei:

"- Feliz Ano Novo !"

Um silêncio se fez entre os amigos ao redor. Todos esperavam pela fúria dele.... Mas inesperadamente ele começou a rir e disse:

"- Você não vale um centavo..."

Fiquei muito feliz, acabara de quebrar aquela máscara em forma de geladeira que ele usava.

Algumas frases dele foram sendo naturalemtne incorporadas às minhas por pura admiração:
“- Tem pergunta fácil ?”
“- Não gosto de frango e nem de derivados...”

O namoro foi muito bom enquanto durou. Às vezes sinto saudades das longas e minuciosas conversas, dos sonhos, dos filmes, dos roncos, das outras viagens que fizemos juntos, das caminhadas.... das risadas. Conseguimos estabelecer uma amizade na qual nos sentimos muito à vontade para conversar o que for atualmente. Hoje tenho a certeza do sentimento que sinto por ele, bem como a certeza que amar de verdade não significa necessariamente ficar junto de verdade. Trata-se de um bem querer mútuo, independentemente das nossas escolhas pessoais.

domingo, fevereiro 13

Presentes de aniversário !

O conheci em um grupo terapêutico. Muito inteligente e brincalhão, excelente jornalista e escritor. Mais falante do que eu. Foi o primeiro homem que vi chorar de verdade. Fiquei respeitosamente impressionada. Eu não era o tipo chorona, por mais que muitas coisas me machucassem profundamente. Quando pequena, ao ameaçar revelar a minha dor, papai dizia:
"- Não vai fazer papelão!"
As lágrimas eram interrompidas. Todos os choros desde então, foram engolidos. Até mesmo porque, as lágrimas nunca comoveram nem mesmo a mamãe.
Ao vê-lo chorar, percebi que meninos choram sim, mais do que isto, homens intelectuais e maduros choram, de verdade !
Eu sabia que em algum momento o foco do grupo se voltaria para as minhas dores, e que eu correria o risco de sentir o desconforto de segurar as lágrimas como sempre, ou de fazer o tal horrível papelão. Nenhuma das duas opções seriam boas... fiquei apreensiva algumas semanas. Mas aquele choro dele tinha sido a minha salvação....
Abri um berreiro !
Fiz um enorme papelão!
Inúmeras vezes !
O mais interessante foi que ninguém nem estranhou.
Ufa... como foi bom !
Hoje bem mais chorona, ganho um presente dele que me toca:
"Estava tentando montar uma mensagem de aniversário para você, mas o papo habitual da data querida, mais um ano de vida, parabéns, tudo isso me pareceu um tanto cansado e fora de propósito para pessoas que têm um sopro pessoal com poderes além do apagar das velinhas.

Fiquei procurando outra abordagem. Pensei na hipótese de que o aniversário deveria, sim, marcar, digamos, a abertura de uma nova e bem sucedida temporada na particularíssima peça, história ímpar da vida de cada um.

Convido você a tomar o centro do palco e encarar as diversas platéias que a gente enfrenta em cada episódio nos diferentes momentos e circunstâncias da vida. E lhes dizer algo assim:

- Por favor, aplausos! Sei que venho fazendo sucesso e se vocês não perceberam, que pena! perderam bons espetáculos...

Nada de apagar velinhas. Mas, sim, acender novas chamas. Faça valer o seu sopro como ares de vida e não de apagamento. Alimente as brasas da visão de vida como tarefa que devemos ter como desafio e prazer porque é nossa, exclusiva, e ninguém tem igual.

Tudo isso para desejar o brilhante início da nova temporada com programa de vida pontuado por êxitos capítulo após capítulo. E se algo ocorrer em desacordo com as suas expectativas e necessidades, reescreva o roteiro! Seja autora de sua vida! "
Muito obrigada, meu querido e humano chorão, pelo espetáculo que montamos em meu palco ! Sortudos serão os que assistirão ! :-)))))

domingo, fevereiro 6

Ou faz falta ao Amor conhecimento

Miguel de Cervantes
(tradução de Josely Vianna Baptista e Luis Dolhnikoff)
Ou faz falta ao Amor conhecimento,
Ou sobra-lhe crueldade, ou minha pena
Não se iguala à ocasião que me condena
Ao gênero mais duro de tormento.
Porém se o Amor é deus, ele é argumento
Que nada ignora, e existe razão plena
Em que não seja cruel. Quem, pois, ordena
A dor atroz que adoro e experimento ?
Se digo que é você, Filis, não acerto;
Pois tanto mal em tanto bem não cabe,
Nem há de vir do céu esta ruína.
Perto estarei da morte, isto é bem certo;
Pois ao mal cuja causa não se sabe
É um milagre acertar a medicina.

segunda-feira, janeiro 31

Limão com melancia

Um suco exótico, meio amargo, que tomei antes de provar o cocktail das eritroletrihilarioxiláceas....

Ele é do tipo que tem domínio total daquilo que chamo de 'combinação de letrinhas'. Apareceu no meu computador, meio sem querer. Juntou várias delas e foi chamando minha atenção. Um dia resolvi saber mais sobre ele. Encontrei uma foto e um mini currículo. Nada mal, pelo contrário, muito interessante ! Escrevi provocativamente e a reação foi imediata. Ainda resta a dúvida sobre quem teria sido o peixe fisgado... ele ou eu. Meses se passaram até que começamos a conversar/digitar mais. E mais..... sobre várias coisas. O humor era raro, claro, engraçado. A inteligência era fascinante, afiada, rápida. Ganhei uma poesia, compusemos outras juntos. Ganhei apoio, energia, fantasia. Muita fantasia. Viajamos ! Literalmente. Desencontramos. Até brigamos (várias vezes). Levaram outros tantos meses para o dia do encontro real. Eu estava estranhamente envolvida por um ser desconhecido.

Ele estava lá, sentado na muretinha quando o vi pela primeira vez, o reconhecimento foi imediato. Eu estava preparada para grandes frustrações à primeira vista, que surpreendentemente não ocorreram. Ele foi gentil, educado, bem humorado. Conversamos sobre assuntos digitados.

Foi tirando as coisas do carro que ele me abraçou e me beijou. Um beijo tão do jeito que eu gosto que fiquei meia tonta, com o coração na mão. Mas como a alegria das "trintonas independentes" (Carrie, Sex and the City) é efêmera, a frase dele seguiu o maravilhoso gesto:

" - Isto é apenas um beijo de boas vindas. Mas nós somos AMIGOS !"

Esta questão da amizade já havia sido amplamente discutida antes do encontro e, racionalmente não poderíamos nos nomear nada diferente de amigos mesmo. Não fossem nossos corpos a criar mais confusão emocional no encontro real...

Ele tinha algumas coisas que eu não gostava, sendo que fumar era o que mais me incomodava. Mas resolvi não ser tão exigente, afinal as qualidades superavam os defeitos. Ele cozinhou para mim. Fez cama, lavou louça, alugou filme, colocou lixo para fora, pegou toalhas, varreu chão, instalou TV, computador, abriu portas, e janelas ! Um verdadeiro gentelman engraçadamente destrembelhado :-) e muito atencioso.

Mas a presença física estava revelando mais coisas.... O discurso dele, altamente contraditório, tentou segurar a "tsunami" (Pereira, 2005) que estava por vir mas não foi possível... Ainda bem ! Eu estava na rede e ele ao meu lado em uma cadeira. Estávamos nos abraçando e beijando daquele jeito bom... lembrando da Velha infância....

" - Andréa, neste momento Eu te Amo muito !"
" - Você se importa se a gente não ficar andando de mãos dadas por aí ?"

Pensei que um pouco de liberdade fosse essencial dado o tamanho da tsunami emocional que estava ameaçando nos submergir completamente.... então perguntei:

" - Por que ?"
" - Porque agora eu não... mas... mais prá frente eu posso querer namorar com você."

Senti que estávamos começando a nos entender.... fiquei contente e respondi sorrindo:

"- Não me importo."

Ele sorriu com um olhar feliz de quem fôra compreendido e nos permitirmos ser submergidos... Não sei o que se passou com ele, mas precisou ir embora de qualquer maneira, por qualquer motivo... Eu estava muito feliz. Incrivelmente apaixonada. Morrendo de medo de me 'afogar', já afogada.... mas tinha escolhido correr o risco de ser feliz e lá fiquei...

Nos dias que se sucederam foram desencontros e mais desencontros, no encontro. Não conseguimos ter um diálogo sem um 'arranhão'. Qualquer coisa era motivo para uma interpretação errônea das palavras, que agora eram ditas, não escritas. Eu procurei não brigar de fato, mas o custo foi muito alto. Me rendeu muitas lágrimas, um herpes nos lábios e um certo rancor por ter sido imensamente mal interpretada.

A sensação da má interpretação me acompanhou desoladamente por outros tantos meses. Parecíamos universos paralelos com os quais não há comunicação possível.... QUEM o saberá ? :-) Eis que a comunicação se abre, e inesperadamente leio:

"- Peço desculpas pelas vezes que algumas declarações minhas possam ter te ofendido, ainda que jamais quis te ofender"

Ele saiu sem saber minha resposta.... precisava ir.... estava muito alvoroçado, assim como minha amiga Mônica... E lamento como meu amigo Eduardo... Não consigo acompanhá-lo...

sexta-feira, janeiro 28

Cocktail das eritroxiláceas transgênicas 2

(Uma homenagem à Andréa :-)
Club de fans, 2005

Ignorada marcianita
Aseguran los hombres de ciencia que en diez años más tu y yo
Estaremos tan cerquita
Que podremos pasar por el cielo y hablarmos de amor

(Marcianita, José Imperatore Marcone e Galvarino Alderete)


Ignorada terrenaça
Aseguran los hombres de ciencia que nen em diez años tu y yo
Estaremos tan cerquita
Suenha en cruzarmos los cielos para hablarmos de amor
mientras vai amando biologicamente los hombres

(Terrenaça,Verdete Esmugáceo D.Corleone, Excuso Hombre Andrónico)

sábado, janeiro 22

Cocktail das eritroxiláceas transgênicas

Uma homenagem ao club de fans :-)
Ramirez et. al. 2005

Parte I - Misteriosa
O que o Eduardo não daria para ser o astronavegante da Mónica!

Parte II - Ética(mentosa)
Querida esta biose não é sua!

Parte III - Gênero(sa)
Vc é uma MULHER linda

Parte IV - Fóbica
(rssss) Querida, não promova esta biose .....

Parte V - Poética
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos,são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo. (Pessoa)

Parte VI - Literária
- Eu gosto do oras, oras isto, oras aquilo, é uma figura de estilo muito interessante.....

Parte VII - Investigativa A
- Então já mataste a charada?
- Não, só matei uma mosca

Parte VIII - Investigativa R
Sim cara(o) Sherlock Holmes era só para confirmar o que supunhamos .....

Parte IX - Romântica
O mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime
(La chanson des vieux amants /J.Brel)

Parte X - Socio(lógica ?)
Andréa, faça-me um favor. Continue a encorajar a quem está a tentar mudar a realidade, porque tentar mudar a realidade é de gigante.

Parte XI - Científica
Bem, uma coisa é certa, vai ser uma bela investigação de campo sobre a "parapsicologia" do n.... :))))) Matéria e material não nos falta :))))))

Parte XII - Psicanalítica
- Hum.... psiquismo profundo, posso-me inscrever neste blog? É que sei ler também o Tarot e conheço o Freud, tu cá, tu lá sem "zebras":)))))))

Parte XIII - Dopada
A minha heroína, depois do Romance Ideal, antes de Bellini e a esfinge e no meio da Amizade Psicoterapêutica! :)))))

Parte XIV - Apaixonada
A onda do amor bateu com tal força na máquina de pensar que freou o pensamento! :)))))

Parte XV - Modificada (ou "Doping Apaixonético")
Não, a coca-cola chama-se Andréa. (...) Agora estamos na dopagem do amor.... que lindo:)))))

Parte XVI - Poética Sherlokiana do (des)entendimento intergaláctico
QUEM é que o saberá sonhar?
A alma de outrém é outro universo paralelo
Mas QUEM é que quer comunicar?
Mas QUEM é que quer o verdadeiro entendimento?
Como é por dentro outro ser intergaláctico
(Fernando Pessoa, 1934 - modificado por nós)

Parte XVII - Ortográfica
Não é eritroliáceas, é eritroxiláceas.

Parte XVIII - Saudosa
(...) Tragam-me a Mónica mesmo sem a astronave.

Parte XIX - Sensata
Sim, concordamos com o respeito, só que a realidade é tão esmagadora que a lucidez também é fundamental. Ou pelo menos, tentarmos mantermo-nos minimamente lúcidos....em relação aos outros e a nós próprios.

Parte XX - Esperançosa
Certamente que vai ser um sortudo.

Parte XXI - Engraçada
Nós somos muito engraçados e engraçamos com vc.

Parte XXII - Hilária
Aqui fala o Eduardo (ELE?)
- Mónica espera por mim, estás muito alvoraçada.

terça-feira, janeiro 18

Romance ideal

Ele era um daqueles rapazes que atraía a atenção de todas as pré-adolescentes na escola. Um tipo alegre, divertido, extrovertido, inteligente e muito paquerador. Que detestava assistir aula, e sempre era advertido, quando não suspenso por suas rebeldias. Estava na sexta série. Eu na quinta. Portanto eu tinha 12 anos e ele 15. Era também filho de uma das melhores amigas de minha mãe, com quem tinha uma relação de admiração e respeito muito grande. Eu era muito introvertida e tímida, além de ter a presença forte da minha mãe que sempre estava por perto. Ela me levava para a escola no famoso Fusca bege. Todas as minhas amigas falavam dele, oras o quanto o achavam bonito, oras o quanto ele era terrível por fazer 'rodízio de meninas' na porta da escola. Eu era puro segredo. Ninguém sabia explicitamente que eu era apaixonada por ele. Mas a Dona Elza sabia... ah.... ela sabia sim... Um dia ela foi me buscar na escola e o viu com mais uma menina. Era final de tarde, estávamos só eu e ela dentro do carro. Ela teve a audácia de parar o carro ao lado dele, que por sua vez estava agarrado na garota, e dizer:
"- Oi ...... ! A próxima da fila sou eu heim !"
"- Claro Dona Elza...." e esticou um olhar para mim que deve ter me deixado roxa de vergonha.
Tive vontade de esganar minha mãe ! Ela era perita em me deixar sem graça perto dele. Eu passava mal de vergonha e mantinha-me cada vez mais calada sobre o tema.
Depois de ficar com metade das meninas da escola ele abandonou os estudos e foi trabalhar com o pai em filmagens. Nunca esqueço de um casamento de uma vizinha no qual inesperadamente encontrei com ele. Claro que mamãe e papai estavam comigo... Eu quase não (ou obviamente não) consegui disfarçar meu coração saíndo pela boca. Hoje acho engraçado lembrar.
Era uma época que ainda se realizavam bailinhos nos porões das casas e prédios para arrecadar fundos para a formatura. Minha turma organizou um destes. Lá fui eu, depois de muita luta para conseguir autorização da Dona Elza, que por sua vez resolveu o problema dela (muito inteligentemente) se disponibilizando a ajudar na organização. 'Era tudo o que eu precisava - minha mãe no meu baile, me vigiando...' Não só meu objeto de paixão passou longe de mim, como todos os outros meninos, óbvio...
Na oitava série fizemos uma excursão para o Horto Florestal. O dia foi divertido, porém a volta muito estranha... Imagino que os meninos combinaram tudo antes. Foi um tal de trocarem de lugar nos bancos do ônibus, que quando percebi um colega de classe estava do meu lado. E ficou conversando comigo até que de repente me roubou um beijo tipo selinho. Levei um susto, não estava esperando, além do mais aquilo nunca tinha me acontecido antes, nem com ele nem com outro menino. Ele certamente não sabia que eu era apaixonada pelo dito cujo acima.
"- O que você acha que eu quero Andréa ?"
"- Eu acho que você quer namorar."
"- Não, eu quero isto !"
E começou um beijo de língua que me deixou ainda mais sem jeito. Lembro da cara da minha amiga que me olhava rindo porque eu nem sequer tinha fechado os olhos. Achei aquilo tudo muito esquisito, e não o deixei repetir a coisa. Ao chegarmos de volta na escola nem me despedi da criatura que havia me beijado, mas me lembro de ficarmos nos entreolhando à distância por alguns minutos, mudos. Eu achei aquilo tudo péssimo. Como assim não pedia autorização, me beijava, não queria namorar e na sequência beijava de língua ? Achei nojento e tive raiva dele por muito tempo.
A minha formatura aconteceria em algumas semanas quando minha mãe pediu que eu telefonasse para a amiga dela convidando todos, inclusive minha paixão acima, para a festa. Ela cismou que deveria ser naquela hora. Telefonei, ELE atendeu. Quase perdi a voz, mas fui fazendo o convite à toda a família. Ele, educadíssimo, agradecia. Dona Elza, entusiasmada por monitorar a conversa insistia para eu convidá-lo para ser meu padrinho. Aquilo nunca tinha passado pela minha cabeça, até mesmo porque ele estava namorando uma moça de outra cidade (ainda acho que foi armação das nossas mães). Enfim, ele foi dito como o padrinho mais bonito da festa, eu devo ter sido a a formanda 'zebra' por estar com ele. Háhá. Dançamos uma valsa juntos, cuja foto tenho até hoje. Lá pelas tantas ele me chamou num canto. Meu coração obviamente saía pela boca.
"- Eu acho que devemos ter algo mais sério Andréa !"
"- Mas você já tem uma namorada !"
Não lembro como continuou a conversa... Voltamos para o salão e sentei ao lado de uma amiga.
"- O que aconteceu com o seu padrinho Andréa ? Ele está tão murchinho..."
"- Ele quis namorar comigo mas eu não quis."
"- Tá maluca ! Dispensando logo ELE ! Porque não ??"
"- Porque ele já tem uma namorada, e quem já tem uma namorada não pode ter outra !"
Na verdade eu não queria ser apenas mais uma da enorme lista dele. Mas me arrependi muito, por muitos anos, por ter recusado a proposta. Depois vim a saber pela irmã dele que ele ficou muito triste nos dias seguintes à festa. Pouco tempo depois eles mudaram de cidade. Eu sofri muito, calada, pela perda do contato. Quando minha mãe morreu ele foi me visitar. Chorou muito comigo, mais do que eu, ele realmente gostava dela. Dentre outras tantas coisas, ele me disse que estava namorando...
Outros tantos anos depois ele estava passeando pelo velho bairro e resolveu passar em casa. Eu estava com uma amiga que, um dia, tinha estado na lista dele. Conversamos muito. Ele iria se casar em alguns meses.
"- Por que você resolveu se casar ?"
"- Porque é chegada a hora..."
Resolvi abrir o jogo, contei que gostei dele na época da escola. Ele revelou sentimento recíproco e disse que tinha a nossa foto da formatura na porta do armário dele. Fiquei surpresa, busquei uma folha de sulfite na qual eu havia escrito inteirinha, anos atrás, o nome dele com caneta BIC quatro cores. Ele levou um susto quando viu a data. Sabia o significado daquilo. Levou a folha e ficou de voltar para deixar o convite de casamento. Por alguns dias torci para que ele não se casasse, chorei absurdos, ensaiei várias falas, mas ele não voltou para entregar o convite.
Muitos anos depois, quando eu já estava no mestrado encontrei a irmã dele em uma biblioteca.
"- E como vai seu irmão ?"
"- Ele não anda muito bem não, tem uma filhinha, mas está brigando muito com a esposa. Passa lá em casa Andréa, minha mãe vai gostar de ver você, e meu irmão também !"
"- Até tenho vontade, mas acho melhor não, afinal, é desconcertante rever um grande amor..."
Foi a primeira vez que disse algo tão claro sobre o que eu senti por ele para alguém.
Alguns meses depois meu pai me acordou em um domigo com um sorisso bem maroto (assim como a Dona Elza, ele também sabia... apesar do meu silêncio)
"Andréa, acorde, tem uma visita para você ! É o ......!"
"Hã ? como assim ?"
"Ele está lá na sala te esperando... levanta !"
Confesso que tive taquicardia outra vez por aquele cara. Porém quando cheguei na sala ele não parecia mais o mesmo. Estava mais magro, triste, visivelmente abatido, havia se separado da mulher. Ficamos conversando, fiz um macarrão, ele almoçou com a gente e me convidou para ir na casa da mãe dele. No caminho fomos nos contando alguns segredinhos como as músicas que nos faziam lembrar um do outro.
"- Nunca parei nesta praça, vamos dar uma volta a pé nela Andréa ?"
"- Ah, vamos ver sua mãe vai, estou com saudades dela...."
Eu senti que a praça era só uma desculpa para uma aproximação real, e tive medo...
Ver a família dele foi muito gostoso. Todos os afetos estiveram preservados durante os anos que haviam se passado. Um encontro bem feliz. Ele resolveu buscar a filha para eu conhecer, enquanto isto sua irmã me contou que ele havia se separado muito recentemente. Que na noite em que chegou lá com todas as coisas no carro, tirou tudo, chorou muito, e ao parar de chorar disse: "- Mas a Dona Elza gostava de mim, não gostava ?"
Ele chegou de volta com a menininha, linda ! Eu sempre gostei de crianças, ficamos brincando com ela um pouco e pedi para ir embora. Fiquei muito assutada com tudo. Não sei exatamente o porquê. Eu queria ir embora de qualquer maneira.
Chorei muito no ombro do namorado que eu tinha na época, que nada entendia dos motivos do meu sumiço naquele dia, muito menos do meu infindável choro, para o qual me dava, literalmente, colo.

sexta-feira, janeiro 14

Profissionalismo pessoal

Eu achava que profissionalismo era significado de ausência de emoção. Por isso passei aproximadamente dez anos mostrando as Ciências e a Biologia para um bom número de alunos atrás de uma máscara que escondia minhas reais emoções. Devo ter sido, para a maioria deles, uma daquelas professoras que 'passam batido' pela nossa formação. Para alguns devo ter sido muito chata e exigente, para outros talvez engraçada, metida, compreensiva, arrogante, não sei... O que sei é que algumas turmas me foram, apesar da máscara, muito especiais.
Os professores se queixavam da bagunça da 6a.B da tarde do "Corujinha", mas os alunos me esperavam respeitosos e animadíssimos para as nossas aulas duplas. Adoraram a proposta do projeto piloto recém inventado, fazer um livro, e a levaram a cabo. No final do ano cada aluno tinha terminado o seu próprio livro (na verdade um caderno) de seu animal favorito, inclusive com fotos ! Lindos ! E sem bagunça !
Nesta mesma escola, em outro momento, resolveu-se que alguns alunos 'precisavam' de reforço. Inspirada na 'Sociedade dos poetas mortos' passamos longe dos livros, cadernos e salas de aula. Montamos um aquário, que ficou na porta da escola e foi cuidado pelos ditos 'reforçados'... Estes alunos foram vistos, após o 'reforço', explicando aos seus colegas o que era um ecossistema.

Do famoso 'Gegue' também trago boas recordações, dentre as quais destaco o dia que cheguei a noite com meu carro novo, recém emplacado, em substituição ao velho Fusca. Eu subia as escadas para entrar na sala de aula quando dois alunos me comprimentaram. Do segundo andar era possível ver o estacionamento.

"- Parabéns professora, nós estamos vendo lá embaixo o resultado do suor do seu trabalho !"
"- Ô loco mêu ! Vou ter que suar mais três anos ainda !"
Nos sorrimos... fiquei sem graça e emocionada ao mesmo tempo... e entrei na classe.

É preciso contar que se trata de uma escola da periferia de SP, localizada ao lado de uma enorme favela na qual muitos alunos moram. Me orgulha muito dizer, não pelo materialismo, mas pela atitude, que nem sequer um risco foi feito no meu carro enquanto trabalhei lá. Para ser sincera sempre me senti segura naquela escola, muito embora nos surpreendia, ao mesmo tempo que entristecia, saber que um ou outro aluno havia sido preso por assalto à mão armada.

Os alunos do supletivo também me proporcionaram uma experiência muito interessante. Quanto mais eu preparava as aulas, menos certo dava...

"- Professora, a senhora (sempre achei esta expressão horrível, mas percebi que é imutável na educação paulistana) viu a doença da vaca louca ?"
"- Pois então ? Quem viu ou leu a respeito ? Afinal o que é esta doença ? Qual o agente causador ? Quem sabe ?"

Nada tinha a ver com a programação daquela aula, mas não deixava de ser um importante conteúdo a ser aprendido, principalmente tratando-se de senhores e senhoras que não estavam alí para fazer de conta que aprendiam, e precisavam saber se era conveniente comprar carne para o almoço de suas famílias no dia seguinte.

"- Afinal professora, depois de toda esta discussão, a gente pode ou não comprar a carne no açougue amanhã ?"
"- Boa pergunta ! O que você acha ?"

A avaliação já estava sendo feita, eles já tinham aprendido. Inclusive os mais quietinhos que acompanhavam a discussão só com os olhos atentos.

"- Prova ? Para que vocês querem prova gente ? Estamos precisando provar algo a alguém ? Ah, é verdade tenho que preencher as targetas com notas... bem então faremos a prova na semana que vem, pode ser ?"

Ninguém, que simplesmente frequentava as aulas, precisava estudar. Eles tiveram o privilégio de eu estar no meio do mestrado trazendo informações fresquinhas. Não tinham tempo para estudar, mas sabiam as respostas, justamente porque eram as de suas próprias perguntas.

Ano passado outras duas turmas, formadas por alunos em dependência na Uninove, também foram especialmente importantes para mim. Eles chegaram com a revolta óbvia de quem fora reprovado. Dois dias depois as queixas foram seduzidas pela proposta de "ver o mesmo filme de forma diferente através de missóes possíveis, nas quais podia-se solicitar ajuda ao Tom Cruise na biblioteca". Eu não saberia dizer o que houve de diferente no processo ensino-aprendizagem, sei que no aspecto pessoal eu começava a me interessar por uma pessoa fora dalí. Esta pessoa se fez tão presente que serviu de estímulo triplicado para o meu trabalho. Objetivando (re)ver os conteúdos através de várias estratégias pedagógicas, montamos um filme na cabeça de cada um, ou pelo menos na da maioria. Foi muito divertido e estimulante. Não sei onde coloquei as velhas máscaras... Quando percebi já havia me envolvido emocionalmente com aquela alegria contagiante de quem descobre que aquilo que parecia inatingível, requer apenas vontade de aprender e gasto de alguns ATPs. Pela primeira vez fiquei triste ao terminar um curso e senti saudade dos alunos. Tenho no carro um cachorrinho de pelúcia que ganhei de três alunas que me faz lembrar de todos eles. Mas mais emocionante ainda é reencontrá-los. Invariavelmente eles abrem um sorriso amoroso e vêm me comprimentar, só para dizer, com o maior orgulho de si mesmos, que não só aprenderam como perceberam a importância do que aprenderam.

"- Sabe professora, lá no hospital que trabalho ninguém da enfermagem sabe porque exatamente as bactérias ficam resistentes aos antibióticos... Mas eu sei !"

segunda-feira, janeiro 10

Amizade psicoterapêutica

Em pleno século XXI suponho que Freud teria surtos ao saber como andam as psicoterapias e as portas abertas por seus renegados discípulos. Imagino que Jung acrescentaria a internet à sua teoria do inconsciente coletivo. Groddeck encontraria a doçura do Drauzio Varella para estabelecer as bases da psicossomática. Skinner veria as pessoas se dando choques e se escondendo cada vez mais em suas caixinhas...
A conheci quando trabalhávamos juntas em uma escola. Ainda me lembro da primeira reunião, quando ela colocou na lousa um esquema que representava a sua proposta de trabalho.
"- Mas é você, como coordenadora, quem deve fazer isto !",
"- Acho que não daria certo Andréa, penso que só vai funcionar se todos nós tentarmos fazer isto juntos..."
Ela possui o biotipo da minha mãe, uma alegria no olhar e um pique de trabalho contagiantes. As reuniões subsequentes, normalmente muito calorosas, revelaram cada vez mais afinidades entre nós; estávamos lá pelos alunos, não por vaidade pessoal. Ela também usava calças jeans como eu, mas pintava as unhas, parecendo ainda mais com a Dona Elza ! Enfim, com alguns outros colegas, fizemos uma boa equipe, e um bom trabalho. Saímos da escola no mesmo final de ano, por razões diferentes, ainda bem, teria sido muito sem graça continuar lá sem a sua parceria.
Um dia fui visitá-la em sua casa. Ela se recuperava de uma cirurgia e, como seus olhos ficaram tão alegres quanto os meus com o encontro, ficamos conversando por horas sobre muitos assuntos. Eu acabara de sair de um relacionamento e ainda sofria muito apesar de já estar em terapia. Meses mais tarde participei de um grupo terapêutico montado por ela. Conheci meia duzia de pessoas muito interessantes, inclusive eu mesma, principalmente quando pequena! Me dei alta da terapia individual e fiquei só no grupo, chupando pirulito :-) Mas do tal grupo fica difícil dizer quem foi que 'me mostrei' umas coisas... Senti que seria bom investigar mais profundamente. Fiz a proposta. Ela pensou. Algumas semanas depois estávamos diante uma da outra sozinhas. Confesso que meu espírito científico não podia ter encontrado objeto de estudo mais interessante do que eu mesma, razão pela qual gosto de fazer psicoterapia. A cada semana uma descoberta: uma tristeza, uma alegria, uma agonia, felicidade, ansiedade, paixão, depressão, amor, nós, nóia, bóia ! Ela tem a habilidade de gargalhar comigo e avisar quando vai me tocar fundo... E o faz.. cataliza minhas transformações lenta, natural e construtivamente. Hoje acho que o processo psicoterapêutico não é para qualquer um, é preciso muita coragem para encarar os demônios interiores. Ainda guardo alguns dos meus a sete chaves na alma, por causa do medo de conhecê-los. Ela sabe disto... e me encoraja a cada sessão, porque sabe também que meu maior desejo é tirá-los de dentro de mim.
Uma mulher à frente no tempo, tanto quanto eu, é apaixonada por Freud e faz uso da tecnologia, embora já tenha deixado claro que prefere o ser humano às máquinas. Utiliza exemplos das minhas atitudes de quando trabalhávamos juntas, coisas que eu nem me lembrava mais, porém de suma importância no processo. Lê e responde as mensagens que a envio, me mostra como a sua vida pessoal, de casada, e de mãe de três filhas não é um bicho de sete cabeças como fantasio, embora tenha lá seus percalços. Me conta que faz as mesmas coisas que eu, e me sensibiliza profundamente com o 'aparentemente inocente' aos olhos alheios...
"Sabe?!?! tenho uma caixa enorme onde guardo recordações. Hoje, em meio à arrumação do meu armário resolvi abrí-la... Foi em alguns momentos, muito engraçado, em outros emocionante. Ri, chorei, brinquei, voltei no tempo... (...) Estou sozinha neste momento. ADORO o silêncio e a minha companhia, é claro!!!! (...) Por que as pessoas complicam tanto???? Por que não se deixam ser felizes???? Serem elas mesmas???? Seria tudo mais simples... Mas, enfim... Cada qual é cada qual. E vamos em frente. Beijos, ......."
Parece que quanto mais gosto dela, mais coragem ganho... Trata-se inclusive, de mais uma, dentre as inúmeras formas de amor. Inegável.

sábado, janeiro 8

Bellini e a esfinge

"Estou em SP. Nos encontramos ? Bj, ......"
Somos amigos há mais de dez anos. Daquelas amizades permeadas por sedução, competição, emoção. Daquelas cujas escolhas, ainda que inconscientes, nos colocam bem distante por anos a fio.
"Claro que sim ! Onde e quando ? Estou com saudades ! Beijo, Andréa."
Na mesma noite nos encontramos. Nada nele havia de diferente. Conservava o mesmo estilo intelectual-erótico-brincalhão com estilo. Conversamos sobre diversos assuntos enquanto aguardávamos pela pizza. Comparamos custos de vida nos dois países, andamanto dos nossos trabalhos, projetos de vida, família, amigos em comum, relacionamentos.
"- Eu sempre gostei de você Andréa."
"- Eu nunca te disse antes, mas eu também me apaixonei por você."
"- Depois que eu comecei a namorar a ...... ! Você nunca soube escolher! Ou então escolhia nos momentos errados."
Ele tinha razão, foram dois anos de terapia, quase R$6.000,00 reais (segundo ele), para chegar a esta óbvia conclusão... Eu escolho os homens errados !
"- Você podia estar morando comigo Andréa !"
Adolescentemente resolvemos comer pizza na cama vendo televisão. Começaria um filme que não havíamos assistido ainda. Terminada a pizza, apagamos as luzes e deitamos lado a lado. O vento de verão que entrava pela janela fez lembrar as noites que, ainda adolescentes, ou melhor, jovens adultos, ficávamos na casa dele até tarde conversando, ouvindo música, vendo os novos seriados da TV a cabo e namorando, ainda que não oficialmente... Assim como eu, ele gostava muito de ler e estudar, disputávamos veladamente quem sabia mais entre um copo de suco de banana e uma 'dívida' contraída. Temos histórias engraçadas e ousadas que não contaríamos. Momentos onde o amei em segredo e o odiei declaradamente.
"- Sua mãe está boa ?"
"- Continua a mesma, me enchendo o saco, larguei ela falando sozinha a tarde e fui dormir."
"- Dormir ?"
"- É, alguns preferem beber, eu durmo !"
O ombro dele e seu cheiro continuavam compondo um bom travesseiro. Meu coração estava completamente feliz por revê-lo de forma tão repentina. A proximidade das almas era tão grande que parecia que havíamos estado juntos todos estes anos. Os beijos, cheios de desejo, foram dos mais carinhosos que haviam acontecido entre a gente. A 'dívida' de longos anos foi naturalmente paga. A alegria foi instalada, enquanto a música em meu computador chegava. Certamente compartilhamos uma forma de amor, das mais elevadas, sem promessas.

sexta-feira, janeiro 7

Pastel especial

Saudade... foi o sentimento que me acompanhou ontem a tarde.
Eu e ela costumávamos comer um pastel especial gigante em determinado shoping center.
Ela era, dentre muitas outras coisas, a melhor companhia para comprar roupas e 'bater pernas'. Aproveitávamos para conversar sobre nossas idiossincrasias pessoais. Quantas histórias colecionamos para contar, viagens fantásticas, dramas, piadas do cotidiano, problemas familiares, jargões de ex, crises existenciais, palavras gozadas. Sempre nos apoiamos uma à outra. E quando a situação era difícil de ser resolvida, regurgitávamos o tema por horas, e por fim nos olhávamos com profundidade e dizíamos "Acho que você deve fazer o que você tem vontade !" Ainda que esta fosse sair correndo atrás daqueles caras que já sabíamos, não nos mereciam. Fiz questão de repetir o pedido, "- Moço, eu quero um especial número 1 e um suco de abacaxi com hortelã." Já foi difícil pedir um só, mas como tinha resolvido encarar os fatos, fiquei esperando enquanto me lembrava daqueles olhões que um dia não se contiveram, nem mesmo na hora do pastel, e se debulharam em lágrimas alí mesmo, na minha frente. Sentei em uma mesinha. Definitivamente faltava alguém à minha frente para catalizar as minhas descobertas, me ajudar a matar a charada ! As coisas realmente haviam mudado: o suco estava muito melado, o pastel diminuiu, e ainda por cima era o número 3 ! A sensação de vazio foi ficando tão grande que a alegria do rapaz sentado na mesa ao lado, com os colegas a parabenizá-lo, não foi capaz de conter as lágrimas, agora nos meus olhos. Na minha frente uma senhora comia um sanduíche com tanta pressa que não percebeu meu desconforto. Eu comi relativamente rápido, muda. A nossa loja favorita também havia fechado. Uma vendedora me seduziu e entrei em uma loja nova. Olhei meio sem vontade... mas acabei gostando ! Tira roupa, põe roupa, uma ginástica ! Os olhões certamente reprovariam a blusa branca com estampa amarela, mas achariam a camisa branca com zíper muito elegante. Foi bom para mim, fazia tempo que a sua companhia havia sido substituída pela minha velha 'molambência'...

terça-feira, janeiro 4

Nietzsche, Confucio e Galilei

Imagino um encontro destas três criaturas...
Sempre há um pouco de loucura no amor, porém sempre há um pouco de razão na loucura. (F. Nietzshe)

O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente. (Confucio)

Você não pode ensinar nada a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo. (Galileu Galilei)

Um dialeticamente louco de amor (racional), outro inteligentemente bancando o idiota (sábio) e o terceiro moderando a discussão (construtivista) :-)))))

domingo, janeiro 2


Apaixonada, minha melhor maneira de viver ! Posted by Hello

Biose feita

(Sim. per. Quatro mãos)

Antes a crítica
Nada de elogios
Dentre tantos enganos
Razão nenhuma pretende-se
Exceto se houver conexão para
Amar

Razão para isto, nem sempre falta
Ademais, insisto, não fostes incauta
Mesmo distante de grado te acompanho
Imergindo-me bastante em teu mundo e
Rindo de tuas agruras quase apanho
Em seguida, faço-me ouvidos, mudo, de
Z a A és avessos sentidos no bom sentido