sábado, maio 21

A ética gen do mestre ad hoc

Knock, knock, knock
"- Entra !"

Foi em 1993 a primeira vez que entrei naquela sala e vi aquele rosto cético. Os olhos revelaram perplexidade ao perceber três das minhas características marcantes da época: ingenuidade absoluta, ignorância acadêmica e total romantismo pela Ciência.

Ele é a memória viva da Genética Humana no Brasil. Descobri isto alguns meses depois de conhecê-lo pessoalmente, ao ler uma matéria no jornal do CRB. Foi difícil revê-lo após aquela descoberta, não estava acostumada a lidar com pessoas importantes. Mas ele nunca ostentou seu vasto currículo e me tratava Rogerianamente, como ele gostava de dizer: "É preciso deixar a pessoa bem emocionalmente à vontade para ela desenvolver, ao máximo, suas capacidades cognitivas!"

"- Mestre, por que o Sr. resolveu me orientar?"
"- Quer que eu diga que foi Amor à primeira vista ?"
Quase sempre eu respondia a este tipo de pergunta-afirmativa dele com um sorriso meio encabulado, meio satisfeito. Eu o admiro muito, até pela capacidade de dizer estas coisas tão espontaneamente em meio às nossas deliciosas conversas, preferencialmente matinais (quantas vezes acordei cedo em nome deste amor...).

Nossos encontros eram recheados de alegria e emoção. Filosofávamos sobre política, estatística, psicologia, economia, assuntos pessoais, história da ciência, religião, cinema, literatura, metafísica, e até sobre genética do câncer que foi tema da minha dissertação.

Tão extremamente inteligente quanto exigente, ele fazia questão de corrigir todas as minhas vírgulas mal empregadas, utilizando-se de justificativas das mais valiosas excepções gramaticais. Aposto apropriadamente posto ou deposto poderia ser outro título engraçado para esta história.

Foram mais de cinco anos de convívio semanal na fase do mestrado. Ele é respeitadíssimo academicamente pelas suas geniais contribuições científicas, principalmente as realizadas na década em que eu nasci. Dotado de um rigor científico único, pautado num compromisso ético singular, e de uma crítica severa, obteve uma coleção de admiradores correspondente à de adversários acadêmicos. De humores imprevisíveis (segundo os outros), sempre me tratou com o maior carinho e esteve sempre presente naquilo que combinamos.

Tem muitas máximas, dentre as quais, "Sem fé não se toma nem um picolé". A minha favorita é: "Eu sempre digo a verdade! Às vezes mais, às vezes menos, sempre de acordo com a capacidade de compreensão do interlocutor..."

Tive o privilégio de ter uma excelente orientação dada a profundidade da relação paternal-orientadora que foi estabelecida. Ele foi o "culpado" pelas viagens que fiz durante o mestrado, pelos prêmios do trabalho, pela herança da coleção das revistas da SBPC com direito ao exemplar número um. Também por me apaixonar pela história da ciência, estatística e pelas leituras exóticas e cronicamente inviáveis.

"- Alô Andréa ? Estou te ligando para, além de saber como vai você, perguntar se você já enviou aquela foto do nosso trabalho ao nosso amigo editor da revista, um professor armênio está interessado em usar nossa foto no artigo dele!"

"- Meste ! Estou com saudades ! Que bom que ligou, não esqueci da foto, vamos nos encontrar ?"
Fomos ao cinema. Um filme genial, digerimos a história logo após num jantar, que por sua vez foi recheado das mais diversas conversas sem fim. É porque não temos fim. Nós somos mais ou menos assim: toda a profundidade científica e amorosa, com o maior respeito e (à) liberdade.

sábado, maio 7

Amor de competição

Quem é gato quem é cão,
Ninguém sabe quando perde o chão
E se apropria da suposta razão.
Hearts full of passion, jealousy and hate[1]
Heads full of reason, dubiety and template.
Se empurram pr´um abismo
Se debatem, se combatem sem saber[2]
Já sabendo, talvez querendo
Que fosse(m) com(o) seu ser...
É feito que causa
Causa e efeito.

Refs.
1. As time goes by – Carly Simon
2. Onde Deus Possa Me Ouvir - Gal Costa/Vander Lee

terça-feira, maio 3

Tempos temperados

Quanto à ELE:
Alguns ganham,
outros perdem
Alguns acertam,
outros arrumam.
Alguns acham,
outros nem procuram.
Tempo
Algo tão...
bom...
algo dão
para a soli
dão.
Definição:
De fim em são
Delfins, são.
Tempos
Nossos tempos
Velhos.... tempos
Temos
Quanto tempo ?
Novos tempos
Não temos
temendo...
Com temperos
Destemperados
Sem tampa,
Destampados,
E escancarados
Feitos
em panela de barro
com colher de pau.