domingo, janeiro 15

Noivo não é zelador

- Alô Andréa?
- Oi, você está bem?
- Eu sumi mas estou pensando em ir pra SP hoje, não queria comprar a passagem sem antes combinar com você...

A casa estava uma baderna, mas a surpresa foi ótima – era realmente tudo que eu queria ouvir dele há alguns meses. Aproveitei a adrenalina para dar trabalho ao coração disparado - soltei o som alto e incorporei alegremente a Maria.

Seis e pouco da manhã, de cara amassada e fuso horário virado, encontro um sorriso largo e um abraço afetuoso – senti a reciprocidade do nosso bem querer.

Um café da manhã bárbaro, uma pausa em casa, um almoço gostosinho, supermercado, e um surpreendente bom vinho! com queijo holandês é claro, porque ele é mesmo muito sofisticado...

Aqueles intensos olhares azuis pediram, por alguma razão misteriosa, socorro à própria mente e ao sorriso naturalmente estampado no meu rosto. Apesar das férias do meu cérebro a conversa foi, o tempo todo, intelectualmente agradável. O tempo todo!

- Como assim um líquido pode ser macio moço? Que absurdo este vendedor está falando – eu pensei. Os olhos azuis, que revelaram uma mistura de admiração e identificação, contornaram a situação e deixamos alegremente o barato do nosso vinho pelo shitake do vendedor mesmo.

Troquei a resistência com mais facilidade que cozinhei o macarrão, sabe lá o que isto quer dizer diante de uma presença masculina tão humanamente desconcertante...

Perder é algo que ninguém gosta, mas permitir “se perder” é diferente e oferece a chance de “se encontrar”, dizem. Foi assim que, com o incentivo dele, eu achei graça ao despreocupar com o roteiro e rodopiar sem destino exato pela cidade, com ele é lógico.

E como quando “o discípulo está pronto o mestre aparece”, ele me mostrou na prática a diferença entre gentileza e submissão. Explicou que um relacionamento tem regras mutáveis, que é preciso ajustes para o encaixe, e que dois planetas não necessariamente realizam órbitas de intersecção exata, mas que a felicidade a dois é factível.