Dizem que na vida da gente algumas pessoas levam um pouquinho de nós enquanto outras deixam um pouquinho delas. São inúmeros os detalhes que aprendi com o namorado que mais me levou a sério até então... Ele é um virginiano típico no melhor sentido do significado do signo solar. Percebo que minha rotina ao acordar durante a semana começa pelo café da manhã para depois passar pelo banheiro, nunca antes sem um copo de água (graças ao médico velhinho da TV), rotina sugerida por ele anos atrás enquanto namorávamos... Sair sem banho para trabalhar nem pensar !
Nos conhecemos ao fazer uma viagem. Era um dos últimos dias do ano. O caminho fôra desviado especialemente para pegá-lo. Ele acabara de sair de uma fábrica que fôra visitar a trabalho. Usava terno e óculos escuro. Aparentemente possuía um "ar" muito sério para quem vinha badernando a viagem toda, de vestido hippie e chinelos (EU :-).
"- Xiiii ...... vamos ter que nos arrumar por lá mesmo porque estes dois aqui não vão rolar..."
"- É mesmo Andréa... lá deve ter uns caras mais interessantes !"
Foi minha conversa de pé de ouvido com uma amiga ao vê-lo pela primeira vez.
Sempre fecho a porta do apartamento com tranca antes de dormir, a segurança ao dormir é muito mais importante do que a segurança ao sair de casa, segundo ele, e portanto, segundo eu agora, é claro.
Passamos alguns dias juntos na tal viagem. Éramos seres muito diferentes. Ele profissionalmente bem sucedido, trabalhava em uma multinacional, eu uma mera professora da Rede Pública Estadual. Mas logo descobrimos algo que gostávamos de fazer em comum: caminhar quilômetros pela areia da praia, molhando os pés na água do mar. Fizemos uma caminhada longa e fomos discutindo o impacto ambiental da construção das hidrelétricas sobre o ecossistema. Eu tinha uma visão muito socialista utópica, ele mais "pé no chão". Eu mais fervorosa, ele mais apaziguador, na discussão.
Riu muito quando no supermercado eu perguntei para todos que estavam conosco na casa:
"- A base tem alguma coisa contra pão Pullman ?"
Enfim, tudo que poderia enquadrá-lo na condição de metido, ele conseguiu reunir durante a viagem. Só queria comer em restaurantes caros (os BONS segundo ele). Foi o único que não foi à praia porque precisava trabalhar. Ficava seriamente impávido diante da música alta que fazia a todos dançar e chacoalhar as suspensões do carro. Foi e voltou de avião (pago pela empresa, é claro...). Era o único todo arrumadinho na noite do Reveillón, usava tênis novo com meias brancas em plena praia. Meu oposto total ! tanto que me inspirou, de propósito, marcar ainda mais as diferenças e passar a virada de ano com minha blusinha vermelha semi-tranparente, sem sutiã, saia jeans velha e havaianas., completamente desencanada.
Ninguém entende bem o porquê, mas só coloco gasolina Shell aditivada no carro até hoje. O “arzinho” fica sempre aberto para evitar acúmulo de poeira e.... no inverno o quente só pode ficar ligado até antes de esquentar as orelhas, para não ficar resfirada.... Ele me ensinou muitas coisas boas...
E foi ao pular as sete ondinhas que uns moleques molharam eu e uma amiga. Entramos na água. Tinha sido a noite que eu mais me dedicara à bebida até então. Muitas caipirinhas ! Quando saímos da água e vi aquele ser todo arrumadinho, e sério, no meio da bagunça de fim de ano, não me contive de indignação. Pulei no colo dele toda molhada e gritei:
"- Feliz Ano Novo !"
Um silêncio se fez entre os amigos ao redor. Todos esperavam pela fúria dele.... Mas inesperadamente ele começou a rir e disse:
"- Você não vale um centavo..."
Fiquei muito feliz, acabara de quebrar aquela máscara em forma de geladeira que ele usava.
Algumas frases dele foram sendo naturalemtne incorporadas às minhas por pura admiração:
Nos conhecemos ao fazer uma viagem. Era um dos últimos dias do ano. O caminho fôra desviado especialemente para pegá-lo. Ele acabara de sair de uma fábrica que fôra visitar a trabalho. Usava terno e óculos escuro. Aparentemente possuía um "ar" muito sério para quem vinha badernando a viagem toda, de vestido hippie e chinelos (EU :-).
"- Xiiii ...... vamos ter que nos arrumar por lá mesmo porque estes dois aqui não vão rolar..."
"- É mesmo Andréa... lá deve ter uns caras mais interessantes !"
Foi minha conversa de pé de ouvido com uma amiga ao vê-lo pela primeira vez.
Sempre fecho a porta do apartamento com tranca antes de dormir, a segurança ao dormir é muito mais importante do que a segurança ao sair de casa, segundo ele, e portanto, segundo eu agora, é claro.
Passamos alguns dias juntos na tal viagem. Éramos seres muito diferentes. Ele profissionalmente bem sucedido, trabalhava em uma multinacional, eu uma mera professora da Rede Pública Estadual. Mas logo descobrimos algo que gostávamos de fazer em comum: caminhar quilômetros pela areia da praia, molhando os pés na água do mar. Fizemos uma caminhada longa e fomos discutindo o impacto ambiental da construção das hidrelétricas sobre o ecossistema. Eu tinha uma visão muito socialista utópica, ele mais "pé no chão". Eu mais fervorosa, ele mais apaziguador, na discussão.
Riu muito quando no supermercado eu perguntei para todos que estavam conosco na casa:
"- A base tem alguma coisa contra pão Pullman ?"
Enfim, tudo que poderia enquadrá-lo na condição de metido, ele conseguiu reunir durante a viagem. Só queria comer em restaurantes caros (os BONS segundo ele). Foi o único que não foi à praia porque precisava trabalhar. Ficava seriamente impávido diante da música alta que fazia a todos dançar e chacoalhar as suspensões do carro. Foi e voltou de avião (pago pela empresa, é claro...). Era o único todo arrumadinho na noite do Reveillón, usava tênis novo com meias brancas em plena praia. Meu oposto total ! tanto que me inspirou, de propósito, marcar ainda mais as diferenças e passar a virada de ano com minha blusinha vermelha semi-tranparente, sem sutiã, saia jeans velha e havaianas., completamente desencanada.
Ninguém entende bem o porquê, mas só coloco gasolina Shell aditivada no carro até hoje. O “arzinho” fica sempre aberto para evitar acúmulo de poeira e.... no inverno o quente só pode ficar ligado até antes de esquentar as orelhas, para não ficar resfirada.... Ele me ensinou muitas coisas boas...
E foi ao pular as sete ondinhas que uns moleques molharam eu e uma amiga. Entramos na água. Tinha sido a noite que eu mais me dedicara à bebida até então. Muitas caipirinhas ! Quando saímos da água e vi aquele ser todo arrumadinho, e sério, no meio da bagunça de fim de ano, não me contive de indignação. Pulei no colo dele toda molhada e gritei:
"- Feliz Ano Novo !"
Um silêncio se fez entre os amigos ao redor. Todos esperavam pela fúria dele.... Mas inesperadamente ele começou a rir e disse:
"- Você não vale um centavo..."
Fiquei muito feliz, acabara de quebrar aquela máscara em forma de geladeira que ele usava.
Algumas frases dele foram sendo naturalemtne incorporadas às minhas por pura admiração:
“- Tem pergunta fácil ?”
“- Não gosto de frango e nem de derivados...”
O namoro foi muito bom enquanto durou. Às vezes sinto saudades das longas e minuciosas conversas, dos sonhos, dos filmes, dos roncos, das outras viagens que fizemos juntos, das caminhadas.... das risadas. Conseguimos estabelecer uma amizade na qual nos sentimos muito à vontade para conversar o que for atualmente. Hoje tenho a certeza do sentimento que sinto por ele, bem como a certeza que amar de verdade não significa necessariamente ficar junto de verdade. Trata-se de um bem querer mútuo, independentemente das nossas escolhas pessoais.
O namoro foi muito bom enquanto durou. Às vezes sinto saudades das longas e minuciosas conversas, dos sonhos, dos filmes, dos roncos, das outras viagens que fizemos juntos, das caminhadas.... das risadas. Conseguimos estabelecer uma amizade na qual nos sentimos muito à vontade para conversar o que for atualmente. Hoje tenho a certeza do sentimento que sinto por ele, bem como a certeza que amar de verdade não significa necessariamente ficar junto de verdade. Trata-se de um bem querer mútuo, independentemente das nossas escolhas pessoais.