domingo, fevereiro 13

Presentes de aniversário !

O conheci em um grupo terapêutico. Muito inteligente e brincalhão, excelente jornalista e escritor. Mais falante do que eu. Foi o primeiro homem que vi chorar de verdade. Fiquei respeitosamente impressionada. Eu não era o tipo chorona, por mais que muitas coisas me machucassem profundamente. Quando pequena, ao ameaçar revelar a minha dor, papai dizia:
"- Não vai fazer papelão!"
As lágrimas eram interrompidas. Todos os choros desde então, foram engolidos. Até mesmo porque, as lágrimas nunca comoveram nem mesmo a mamãe.
Ao vê-lo chorar, percebi que meninos choram sim, mais do que isto, homens intelectuais e maduros choram, de verdade !
Eu sabia que em algum momento o foco do grupo se voltaria para as minhas dores, e que eu correria o risco de sentir o desconforto de segurar as lágrimas como sempre, ou de fazer o tal horrível papelão. Nenhuma das duas opções seriam boas... fiquei apreensiva algumas semanas. Mas aquele choro dele tinha sido a minha salvação....
Abri um berreiro !
Fiz um enorme papelão!
Inúmeras vezes !
O mais interessante foi que ninguém nem estranhou.
Ufa... como foi bom !
Hoje bem mais chorona, ganho um presente dele que me toca:
"Estava tentando montar uma mensagem de aniversário para você, mas o papo habitual da data querida, mais um ano de vida, parabéns, tudo isso me pareceu um tanto cansado e fora de propósito para pessoas que têm um sopro pessoal com poderes além do apagar das velinhas.

Fiquei procurando outra abordagem. Pensei na hipótese de que o aniversário deveria, sim, marcar, digamos, a abertura de uma nova e bem sucedida temporada na particularíssima peça, história ímpar da vida de cada um.

Convido você a tomar o centro do palco e encarar as diversas platéias que a gente enfrenta em cada episódio nos diferentes momentos e circunstâncias da vida. E lhes dizer algo assim:

- Por favor, aplausos! Sei que venho fazendo sucesso e se vocês não perceberam, que pena! perderam bons espetáculos...

Nada de apagar velinhas. Mas, sim, acender novas chamas. Faça valer o seu sopro como ares de vida e não de apagamento. Alimente as brasas da visão de vida como tarefa que devemos ter como desafio e prazer porque é nossa, exclusiva, e ninguém tem igual.

Tudo isso para desejar o brilhante início da nova temporada com programa de vida pontuado por êxitos capítulo após capítulo. E se algo ocorrer em desacordo com as suas expectativas e necessidades, reescreva o roteiro! Seja autora de sua vida! "
Muito obrigada, meu querido e humano chorão, pelo espetáculo que montamos em meu palco ! Sortudos serão os que assistirão ! :-)))))

4 comentários:

Anônimo disse...

Receita de mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível.
É preciso
Que tudo isso seja belo.
É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas.
Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce
relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.

Vinícius de Moraes

Parabéns, querida


M..... de Mónica

Anônimo disse...

Presente!
Andréa,
Rindo do meu esquecimento
Abri a msg e estava dentro
Bem ali eu tinha em frente
Este dia, estateladamente.
Nesta data tão querida, então,
Só posso te dar, do coração,

Meu ausente, desejo invade,
Que é o desejo de felicidade !

Andréa disse...

Olha só,
Belos presentes !
Regozijo-me ao ler
Inesperadamente
Graciosa composição, que
Alegra o coração, com o
Desejo sublime da emoção,
Ainda que ausente bem presente.

Anônimo disse...

FIM